Cálculo não considera gastos com hospital e fisioterapia
Estudo inédito do Centro de Pesquisa e Economia do Seguro (CPES), da Escola Nacional de Seguros, estima que, só no ano passado, o prejuízo com a violência no trânsito foi de R$ 146,8 bilhões, ou 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2016, foram 33.347 mortes e 28.032 de casos de invalidez permanente — ainda assim, uma queda de 32,35% em relação a 2015, quando foram registrados 42.501 mortes e 57.798 casos de invalidez permanente, um custo estimado de R$ 217,11 bilhões, ou 3,7% do PIB. Claudio Contador, coordenador do levantamento e diretor do CPES, atribui a queda a dois fatores: a forte retração da economia (em 2016, o PIB caiu 3,6%, no segundo ano seguido de recessão), o que afetou as vendas de veículos. O outro motivo foi o aumento da fiscalização, principalmente com as operações da Lei Seca.
— A grande maioria dos acidentados, 90%, concentra-se na faixa etária entre 18 e 64 anos. Pertencem a um grupo em plena capacidade produtiva. Estamos falando apenas do impacto econômico, excluindo toda a questão da dor das perdas de vidas e da superação quando um acidente muda, em segundos, toda a sua vida — diz Contador.
MOTOQUEIROS: MAIS VULNERÁVEIS
A projeção do CPES não inclui os gastos com o atendimento no hospital, nem o período de reabilitação. Segundo Aquiles Ferraz, superintendente executivo da ABBR, um paciente com trauma na coluna precisa de um programa multidisciplinar que envolve psicólogo, assistente social, médico, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e musicoterapia — um custo de R$ 3.658 por seis meses de tratamento, duas vezes por semana. Se a frequência for de três vezes na semana, são R$ 5.500. Segundo o diretor médico da associação, Robson de Bem, um paciente com lesão medular ficar de um a dois anos em tratamento.
‘UMA GUERRA SILENCIOSA’
O professor de Logística e Infraestrutura da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Resende, afirma que os número de mortes e casos de invalidez por causa do trânsito devem estar em torno de 50% acima das estatísticas conhecidas, porque, em muitos casos, os envolvidos não cobram o seguro DPVAT.
— O primeiro impacto é na renda, porque gera menos riqueza. A produtividade cai com a morte ou invalidez de pessoas no auge da idade produtiva. — diz Resende, ressaltando que os acidentes sobrecarregam o Sistema Único de Saúde (SUS). — O efeito é devastador, porque é uma guerra silenciosa.
Contador diz que, apesar do quadro de guerra, o Brasil está no caminho de cumprir resolução das Nações Unidas que estipula como meta diminuir em 50% o número de vítimas no trânsito até 2020.
— A tecnologia está ajudando a reduzir os acidentes. Atualmente os acidentes, comparados com os de 20 anos atrás, matam muito menos, com melhorias na lataria dos automóveis, o uso dos cintos de segurança e outros equipamentos, mas ainda assim é uma guerra. Tem de haver penas mais duras no trânsito.
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