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28 de novembro de 2023

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Corações mais saudáveis do mundo estão em povoado indígena da Bolívia, indica estudo

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Franedir Gois/Opovonews
 

Pesquisa revela que nenhum tsimane, povo que vive nas florestas no norte do país, tinha sinais de artérias entupidas – inclusive aqueles com idade avançada.

Os corações mais saudáveis do mundo são dos tsimane (ou chimane), um povo indígena que vive nas florestas no norte da Bolívia, revela um novo estudo.

Segundo a pesquisa, publicada na revista científica Lancet, praticamente nenhum tsimane tinha sinais de artérias entupidas ─ inclusive aqueles com idade avançada.

“É uma população incrível” com dietas e estilos de vida radicalmente diferentes, dizem os pesquisadores.

Os tsimane caçam a própria comida e comem o que plantam.

Os responsáveis pelo estudo afirmam que, apesar de o restante do mundo não poder fazer o mesmo, há lições a serem aprendidas.

Atualmente, a população dos tsimane está estimada em 16 mil. Eles caçam, pescam e cultivam alimentos ao longo do Rio raniqui, na floresta amazônica da Bolívia.

O estilo de vida deles guarda semelhanças com o da civilização humana de milhares de anos atrás.

O povoado isolado exigiu esforço dos cientistas, que tiveram de pegar vários voos e até uma canoa para chegar ao local.

Como é a dieta tsimane – e no que ela difere da nossa?

– 17% da dieta dos tsimane é uma combinação de carnes de porco selvagem, anta e capivara;

– 7% é composta de peixes frescos, como piranha e bagre;

– O restante vem da agricultura, como arroz, milho, mandioca e banana da terra;

– Eles também consomem grandes quantidades de frutas silvestres e nozes.

Ou seja…

– 72% das calorias diárias dos tsimane vêm de carboidratos, comparado a 52% nos Estados Unidos;

– 14% vêm de gorduras, comparado com 34% nos Estados Unidos (eles também consomem muito menos gordura saturada);

– Tanto os tsimane quanto os americanos consomem o mesmo porcentual de proteínas (14%), mas o povo indígena come mais carne magra.

Atividade física

Os tsimane também são mais bem mais ativos – os homens dão 17 mil passos por dia, e as mulheres, 16 mil.

Até os maiores de 60 anos têm um desempenho bem acima do recomendado: 15 mil.

Especialistas aconselham que as pessoas deem pelo menos 10 mil passos diários para manter um estilo de vida saudável.

Quão saudável é o coração dos tsimane?

Para chegar às conclusões, os cientistas observaram o nível de cálcio nas artérias dos tsimane – que indica o sinal de entupimento dos vasos sanguíneos e o risco de parada cardíaca.

Eles examinaram o coração de 705 integrantes do povoado indígena por meio de tomografia computadorizada – e também receberam a ajuda de um grupo de pesquisa com experiência na análise de corpos mumificados.

Aos 45 anos, quase nenhum tsimane tinha CAC nas suas artérias, comparado a 25% dos americanos.

E quando atingiram a idade de 75 anos, dois terços dos tsimane não apresentavam nenhuma formação de cálcio no coração, comparado a 80% dos americanos.

Os pesquisadores vêm estudando o povo há muito tempo. Dessa forma, eliminaram a possibilidade de que os resultados do estudo pudessem ter sido afetados pela morte precoce de alguns dos integrantes da comunidade.

Um dos pesquisadores, Michael Gurven, professor de antropologia da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, disse à BBC que o nível de cálcio no coração dos tsimane “é muito menor do que em qualquer outra população do mundo para a qual existem dados”.

“As mulheres japonesas são as que chegam mais perto (dos tsimane), mas mesmo assim há um oceano de distância”, acrescentou.

Os tsimane também fumam menos, mas contraem mais infecções, o que potencialmente aumenta o risco de problemas cardíacos por causa da inflamação no corpo.

Os pesquisadores acreditam, contudo, que vermes intestinais – que atenuam as reações do sistema imunológico – podem ser mais comuns nos organismos dos integrantes do povo indígena, ajudando, assim, a proteger seus corações.

O que tsimane podem nos ensinar?

“Diria que precisamos de uma abordagem mais holística em relação ao exercício físico do que simplesmente praticá-los no fim de semana”, diz Gurven.

Para Gregory Thomas, do centro médico Long Beach Memorial na Califórnia, que também participou do estudo, “para manter a nossa saúde em dia, devemos nos exercitar muito mais do que nos exercitamos”.

“O mundo moderno está nos mantendo vivos, mas a urbanização e a especialização da força de trabalho podem ser novos fatores de risco (para o coração)”, acrescentou o especialista.

“Os tsimane também vivem em pequenas comunidades, socializam bastante e mantêm uma perspectiva otimista para a vida”, completou.

Reações

Gavin Sandercock, professor de fisiologia clínica na Universidade de Essex, no Reino Unido, que não participou do estudo, elogiou as descobertas da pesquisa.

“É uma excelente pesquisa com descobertas únicas”, afirmou.

“Os tsiname obtêm 72% de sua energia dos carboidratos. E o fato de eles terem os melhores indicadores de saúde cardiovascular já registrados vai de encontro à suposição de que os carboidratos não são saudáveis.”

Já o professor Naveed Sattar, da Universidade de Glasgow, disse se tratar de “um maravilhoso estudo da vida real que reafirma tudo o que entendemos sobre como prevenir doenças coronarianas”.

“Em outras palavras, ter uma dieta saudável pobre em gorduras saturadas e repleta de produtos não processados, não fumar e ser ativo ao longo da vida está associado a um risco menor de entupimento de vasos sanguíneos”, conclui.

As doenças cardiovasculares, como infarto e AVC, são a maior causa de mortes no Brasil – são mais de 700 paradas cardíacas por dia e 300 mil mortes por ano (um terço do total geral).

A alta freqüência do problema posiciona o Brasil entre os dez países com maior índice de mortes por doenças cardiovasculares.

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